Por Adrualdo Monte Alto Neto

Desde que ajustei meu mind set para uma configuração mais empreendedora, passei a detestar quase todos os provérbios populares. Ditados como “O seguro morreu de velho”, “Em terra de cego quem tem um olho é rei”, “Um dia da caça, outro do caçador”, “Os últimos serão os primeiros”, “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, “Pau que nasce torto nunca se endireita”, “Com coisas sérias não se brinca”, “O homem prevenido vale por dois”, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, “em time que está ganhando não se mexe”, estão fundados em valores que verdadeiros inimigos do empreendedorismo: determinismo, medo do novo, valorização excessiva da estabilidade, satisfação com pouco.

Proverbios

Mas, “como toda regra tem exceção”, se tem um que me agrada é o “diga-me com quem andas que eu te direi quem és”. Eu resumiria essa lição de outra forma: mind set é ‘contagioso’. Se não é 100% verdadeiro que “a pessoa é fruto do meio”, é certo que ele pode sim influenciar.

A verdade é que estudando o comportamento de pessoas bem sucedidas encontramos um importante ponto de convergência de conduta entre elas: convivem sempre com pessoas que acrescentam, que ajudam a crescer. Evitam papos de “elevador” e não perdem o tempo debatendo futilidades. Essas pessoas sempre se afastam das ‘âncoras’ (pessoas que só te puxam pra baixo e te ajudam a estagnar).

Se você, por exemplo, está focado em fazer dieta, perder peso, alimentar-se de forma saudável etc., muito mais recomendável manter-se próximo de quem pratica os mesmo hábitos, do que da amiga que só te chama pra comer doce ou do amigo que só chama pra tomar cerveja e fazer churrasco.

cerveja

E se você decidir fazer dessa dieta um estilo de vida e não algo passageiro descobrirá rapidamente o óbvio: o seu amigo “cachaceiro” será somente um obstáculo e nunca um incentivo. Tentar manter o convívio regular com ele será manter na sua rotina situações com alto risco pro seu objetivo final.

Aliás, assim é em vários aspectos da vida e realizamos isso de forma instintiva, sem nos darmos conta. Quem toma cerveja sempre andam com quem também bebe; quem é assíduo com a igreja, com outros igualmente religiosos; os “marombados”, com outros também “malhados”; e por aí vai. As pessoas sempre se agrupam em comunidades, seja por afinidade de gostos, seja pra não se afastar de seus objetivos.

Comunidade

A verdade é que se o ser humano, desde os primórdios, sempre procura por seus pares, seja o critério a etnia, o sangue, a religião, a língua, o time preferido ou o hobby. E essa associação é muito poderosa, já que “várias cabeças pensam melhor do que uma”. Treinando com o seu amigo mais fortão que você, você pode aprender outras técnicas de musculação, um suplemento diferente, um alimento que ajude a ganhar massa etc.. Bebendo com outro “Zeca Pagodinho” da vida, vocês potencializam o consumo um do outro e tomam uma grade ao invés de algumas garrafas. Em resumo, estar perto do seu par te ajuda a aprimorar suas aptidões.

Zeca pagodinho

Algumas vezes acabamos nos associando pelo critério errado e isso pode acabar nos prejudicando. A verdade é que a ideia de par tem que prever uma identidade de objetivos. Mesmo que haja identidade aparente de área, de preferências, se os momentos forem diferentes, as metas forem distintas, essa aparente identificação pode desaparecer. Se um magricela iniciante for treinar com um fisiculturista, certamente este último extrairá muito pouco ou quase nada dessa interação, mesmo que o objetivo de ambos seja aumentar o tônus muscular.

É por isso que digo que um advogado que procura vencer na carreira, que está na fase de estabelecer-se, ainda em busca da sua autoridade e do seu lugar do mercado, deve aproximar-se de pessoas com o mind set vencedor, mas que ainda não tenham alcançado seu objetivo, ou seja, potenciais vencedores ainda distantes do pódio.

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E ninguém se encaixa melhor no estereótipo do que um concurseiro focado. Ainda que vocês tenham metas específicas distintas, ambos buscam a mesma coisa: vencer. E o concurseiro, quando começa a sua jornada, já é preparado pro fato de que precisará ter muito foco e abdicar de muita coisa.

E isso também vale para o advogado em busca do seu lugar ao sol. Afinal, se o que te trará sucesso é ser exclusivo, é diferenciar-se, certamente você não alcançará isso fazendo o mesmo que as outras pessoas.

Com certeza absoluta o sucesso não virá, ao menos não tão cedo, se você fizer como a maioria dos seus colegas: chegar no escritório do meio pro fim da manhã, vir suas publicações, fizer carga nos seus processos, cumprir os seus prazos e for embora. Pra vencer é preciso ir além. E para ir além, vai ser muito mais fácil se os seus amigos mais próximos também estiverem focados e se doando até tarde ao invés de te convidando pro happy hour às 18hs em ponto.

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Por isso que disse pra se afastar dos seus amigos concursados. Normalmente são pessoas boas, boas influências no geral, pessoas bem sucedidas, via de regra, mas comumente com a vida “já resolvida”, com a sua grande conquista já alcançada.

É normal que essas pessoas já estejam trabalhando num modo mais light, se dando luxos que você ainda não pode se dar. E alinhar-se com elas pode ser um erro grave, quiçá fatal.

Concursado têm a certeza do dinheiro na conta dia 1º (ao menos tinham até o início de 2016, mas isso é outro papo). Você não. Você ainda precisa correr atrás da grana pra pagar as contas do escritório e os seus investimentos.

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Concursados têm a certeza das férias de longos períodos corridos, o que os permite planejar passeios e viagens com antecedência. Você não. Você deve ter sempre que possível a agenda disponível para nela encaixar um recurso de última hora que te renderá um bom dinheiro, ou um congresso do qual tome conhecimento poucos dias antes da realização.

Concursados têm porque comprar carros mais confortáveis e caros e investir em imóveis. Você, ainda sem receita previsível, deve ter custos fixos mais baixos e investir sempre no seu negócio (seu escritório) e nos seus conhecimentos.

Concursados têm todos os motivos do mundo pra adorar os longos feriados. Você, absolutamente não. Eles recebem o mesmo, trabalhando ou não.Você vive dos negócios que fecha em dias úteis.

Feriado

Concursados têm 13º (às vezes 14º e 15º) no final do ano. Você normalmente paga ao menos o  13º da sua secretária e terá cerca de um mês sem arrecadar para pagar as pesadas contas de Janeiro.

No dia em que passar a detestar o carnaval – que nos tira praticamente 9 dias num mês que só tem 28 – você poderá se considerar um advogado empreendedor de verdade. De Dezembro a Fevereiro é o melhor período do ano pra quem trabalha pros outros (seja iniciativa privada ou serviço público) e o pior pra quem trabalha pra si.

Percebe porque defendo que se afaste dos concursados? Porque os paradigmas são muito diferentes.

Diferente

Numa semana com feriado na quinta, você, iniciativa privada, tem ainda mais motivos pra trabalhar na sexta. Seu amigo que trabalha pra um “patrão” que sempre emenda feriados, tem todos os motivos pra fazer churrasco, viajar etc..

Se não quiser ficar sendo tentado por fotos de cerveja gelada, picanha assada, praia paradisíaca, ou, pior do que isso, fraquejar, melhor se afastar e se alinhar com o seu amigo concurseiro, que ainda luta pela sua maior vitória, sabe bem o que é renunciar e tem um foco espartano, que vai te contagiar pro lado certo.

Entendo que você esteja se perguntando: “Está sugerindo que eu deixe de ter uma amizade com quem gosto só por causa da profissão?”

Amizade

É óbvio que não. Eu mesmo tenho vários grandes amigos no serviço público e não os deixo por nada nesse mundo. O que sugeri é que repense a ideia de fazer tudo juntos já que vocês pertencem hoje a tribos diferentes.

 Amanhã ou depois, essa diferença desaparecerá ou será grande a seu favor, de modo que ele que terá que se preocupar em não conviver com você por não poder viajar de uma hora pra outra, ou não poder comprar uma casa de campo como a sua, ou uma lancha igual.

Em resumo, cada escolha tem o seu tempo, tanto de plantio, quanto de colheita. E na iniciativa privada, mesmo que o tempo de plantio possa ser maior, o vulto da colheita não tem limite. Alcançando o sucesso profissional empreendendo, a tendência é que “pague com juros” todas as horas noturnas trabalhadas, todas as viagens perdidas ou bens não comprados. O que estou tentando dizer é que se o seu tempo de plantio for maior, sua colheita também tende a ser muito mais próspera.

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